É dia 20.


(…) E  dia após dia, ela aprendeu a não confiar. A estar alerta .                
As vezes alguém magoa-te tanto que um dia, para de doer. Ate que alguma coisa te faça bem… E aí volta tudo de novo. Cada palavra, cada ferida, cada momento. Como é que tu podes entender de onde eu venho? Mesmo se tu perguntares, mesmo se ouvires, tu não estará realmente aqui para ver. Tu não sabes da minha historia, tu nunca andaste pelo meu caminho. Não viste o que eu vi. O meu passado define-me. Isso é o que eu sou. Eu sou aquela que ninguém vê, ninguém ouve.        
Isto é o que eu sou. Se é que sou alguma coisa.
Por mais perguntas que faça, tudo me parece muito estranho. É como se, o que me segura em cima, seja o mesmo que me  força para baixo. Do nada, o meu mundo virou de cabeça para baixo e a ordem desapareceu. Nada é como deveria ser… e, uma confusão imensa  preencheu a minha alma. Percebi que estava cada vez mais perdida, sozinha. Sabem, não ajuda quando dizem “ estou aqui” porque eu sei que que estão aí mas é  esse o significado de solidão. É o estarmos acompanhados e sentirmo-nos no meio do nada, a sentir o  tudo e  o nada.
Dei por mim á procura de mim mesma. Precisava sobretudo de ME encontrar.
E encontrei-me. Encontrei-me presa nas tragédias da minha vida. Perdida nos lamentos da minha alma. Incapaz de ver a luz. Incapaz de ver o nascer do sol. De sentir. De ter esperança. De sonhar. E os dias de escuridão continuam a vir. Os dias mais negros que a minha alma se recorda. Parece ser sempre de noite e tudo é um pesadelo. Nunca manhãs. E tu perguntas: Porquê? …   
A maior parte do tempo, tento não pensar a respeito e tento passar por isto, tentando sobreviver  e, todas as outras coisas se parecem com nada se comparadas com o que de mais importante poderia voltar, como desejar sorrir de novo, ouvir as músicas favoritas, aquela que me conforta quando as coisas estão confusas. Se eu não me poder ter de volta, pelo menos que possa cuidar dos que me rodeiam pois eu sei que eles vão ficar assustados, e aí, quem vai segurar a mão deles para lhes dizer que vai ficar tudo bem?

E quem me vai dizer isso…?

Eu sei que ninguém me pode ajudar dependente, desesperada, mas o que acontece quando tu deixas de conseguir falar sobre o que sentes, pensas e queres? Já ouvi um tanto de promessas e todas elas soam à mesma coisa. Parecem promessas tão cheias e no fim provam-se vazias.                                                                                                                                     
O sol nasce todas as manhãs  mas tu sabes onde? Em cada lugar é bem diferente.  É difícil achar o leste quando se anda muito por aí, mas pelo menos o sol vem. Vem sempre. E é disto, e unicamente disto, que eu dependo.
Gostava que alguém me dissesse que tudo vai ficar bem, que algum dia, talvez eu vou sentir-me normal… Que nem sempre estarei sozinha. Que eu vou ter alguém que me abrace, seja forte para mim, porque talvez eu não possa fazer tudo por mim mesma.

Este é o meu passado, a minha historia, não é culpa minha. Não é por minha causa. E não deve ser o que define o meu futuro! Eu sou capaz de ser amada, sou merecedora disso. E aquele raio de luz faz toda a diferença. O raio de luz que me deu a esperança que algum dia, o meu verão chegará. Tu não te lembras da minha historia. Tu só podes pensar sobre a tua própria historia. Esta é a minha historia e eu tenho que fazer as pazes com ela.
Ás vezes, a minha vida parece um circulo. Um ciclo interminável. Não sei como para-lo ou altera-lo ou simplesmente quebra-lo. Quando estou prestes a faze-lo, tudo começa outra vez. Um turbilhão de sentimentos. Um tornado que vem para me destruir.
Novamente do nada do nada,  as coisas começam a melhorar. A vida assume um novo ritmo, um novo normal. E isso pode não ser o melhor, mas eu fiz as pazes com ela - com a minha história. De repente parece que eu quase poderia ser feliz. Faz-me crer que talvez eu possa reescrever a minha própria historia. Esquecer o passado. Até que quando eu estou prestas a conseguir, tudo começa novamente.   Tu só vês o que eu faço e julgas, ris e apontas o dedo. Tu esqueces o  que eu ouvi, vi e vivi. Tu NUNCA soubeste. Tu esqueces a minha dor. Tu NUNCA a sentiste. Tu esqueces que sempre que fazes isto,  é menos um dia em que eu e tantos outros como eu, não vêm o sol.




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